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O Saúde da Família pode diminuir as filas do SUS

Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre o programa, hoje já rebatizado de “estratégia saúde da família”, mas ele parte de um pressuposto extremamente simples: prevenir doenças é mais barato e eficiente do que as tratar. Com certeza isso parece padrão europeu para um país onde a fila do Sistema Único de Saúde (SUS) é tão absurda que pessoas morrem nela, mas essa estratégia já é realidade — no ponto de vista legal — desde 1994.

Atualmente, existem equipes desta estratégia em 3.961 dos 5.570 municípios, alcançando pouco mais de 93 milhões de pessoas. Dada a população de mais de 200 milhões de brasileiros, ainda falta alcançar metade da população, mesmo já tendo 26 anos de existência do programa. Muito disto se deve a dependência do programa de uma gestão qualificada nas secretarias municipais de saúde. Um município pioneiro nesta estratégia é São Paulo, onde já é aplicada há 24 anos, mas nem todas as cidades brasileiras possuem o privilégio de prefeitos qualificados.

No histórico de prefeitos de São Paulo, temos o elaborador das PPPs e um dos responsáveis pelos genéricos. Esta não é a realidade da maioria dos milhares de municípios brasileiros, além da baixa qualificação de muitos prefeitos, ainda existem as negociatas de secretarias em troca de apoio partidário. O saldo desta realidade são secretários e prefeitos que muitas vezes nem sabem como gerenciar esta estratégia. A conclusão dessa realidade? A fatal fila do SUS.

A prevenção como aliada da assistência médica

Primeiro vamos aos números, doenças isquêmicas — problemas nas artérias coronárias que comprometem a circulação sanguínea e podem causar até infartos — são as que mais matam no Brasil, uma cirurgia para desobstruir as artérias custa de 6 até quase 8 mil reais.

Uma única equipe — com as devidas qualificações e estrutura por parte da sua respectiva secretaria de saúde — pode prevenir a necessidade por dezenas destas cirurgias com mudanças alimentares e remédios, também liberando as filas do SUS para casos não tratáveis por medicina preventiva, como traumas físicos.

Além dos numerosos problemas isquêmicos na saúde do brasileiro, também podemos abordar doenças crônicas como asma e problemas alimentares e dentais. Quando tratamos de pediatria, a falta de uma alimentação saudável — em famílias mais humildes algo a ser resolvido em parceria com a merenda escolar — ou dentes saudáveis podem afetar o desempenho e a socialização na escola. Em adultos, essa atenção pode refletir no trabalho — considerando a falta de qualificação ou investimento em tecnologia. A produtividade laboral fica ainda mais comprometida se não há um acompanhamento médico preventivo.

pandemia deixou ainda mais evidente a necessidade de atenção a saúde psicológica, independente de idade. Na primeira infância, temos a possibilidade do diagnóstico do espectro autista ou de problemas de ansiedade. Ficando evidente a necessidade de se haver um olhar para o psicológico nas equipes da Saúde da Família.

De acordo com o Ministério da Saúde, as equipes da estratégia da saúde da família podem resolver 80% dos problemas de saúde do brasileiro com o acompanhamento preventivo. Neste contexto há, além de remédios, o auxílio na construção de hábitos de alimentação e exercícios, algo que pode ser visto como um privilégio de gente rica. Mas com a quantidade de impostos pagos no Brasil, é possível.

Por que ampliar a medicina preventiva no SUS

Felizmente, todas as pessoas são livres para escolher se cuidar — ou não se cuidar. Outro desafio destas equipes é lidar com vícios, como cerveja ou tabaco. O abuso destas substâncias pode levar à cirrose e o câncer. No caso da cirrose — quando se chega a necessidade de transplante de fígado —, o custo pode chegar a R$ 68 mil reais, um valor assim torna o custo do preventivo em algo irrisório.

Também felizmente o programa continua em evolução, apesar de alcançar apenas metade da população brasileira, está sendo modernizado e digitalizado. Há um incentivo claro de se aplicar o programa e liberar as filas do SUS, reduzindo o atendimento emergencial e aumentando o preventivo. Nenhuma tecnologia substitui a gestão clara e objetiva, mantendo nossa independência de prefeitos e secretários que saibam trabalhar com o programa e atenderem a população.

As grandes filas e a demora para o atendimento tornaram-se sinônimos do SUS. Infelizmente, a consciência popular para tratamento da própria saúde é mínima. Atrelado esse fator, falta uma gestão pública especializada em tratar sintomas. Assim, a ampliação da medicina preventiva pode modernizar o sistema de saúde pública dos municípios, garantir a qualidade de vida da população e evitar gastos com tratamentos para doenças mais graves.

Texto publicado originalmente por Insurgere em Novembro de 2020.

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"O poeta é assim: tem, para a dor e o tédio,
Um refúgio tranquilo, um suave remédio.
És tu, casta poesia, ó terra pura e santa!
Quando a alma padece, a lira exorta e canta;
E a musa que, sorrindo, os seus bálsamos verte,
Cada lágrima nossa em pérola converte."

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