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Lições a aprender na queda do Facebook

Outubro começou com mais uma queda do Facebook e levou contigo suas principais mídias sociais filiadas, o Instagram e o Whatsapp. Este mais sentido no Brasil que em outros países devido ao nosso – nada – maravilhoso sistema de oligopólio telefônico. A queda destas três redes sociais, junto a reação de seus usuários, ensina algumas lições interessantes para serem avaliadas.

O que a queda não representa

Houve quem comparasse a queda das mídias sociais do Facebook com a realidade de países como Coréia do Norte ou China. Isto funciona como chamariz ou ironia e nada mais. A comparação é superficial e insustentável porque se refere a duas realidades completamente diferentes entre si e também completamente diferente de Brasil, EUA e outras nações onde estas mídias sociais atuam.

No caso da China as diferenças são sutis, mas intensas. As redes sociais que aqui são livres e de propriedade das empresas que as desenvolvem ou adquirem lá são uma ferramenta nas mãos dos interesses o PCCh. É ingenuidade achar que se pode treinar pessoas para serem mão de obra de multinacionais tecnológicas e nestas pessoas não nascer o desejo de utilizar aquelas tecnologias. 

Suprir estes desejos sem afetar o desejo de controle social do PCCh levou a criação de Weibo – o Twitter chinês -, do WeChat – o Whatsapp chinês e outros afins. Saindo de dentro do partido estas redes sociais deixam de ser uma forma de integração social e passam a ser fonte de informação para o controle social do estado totalitário. A queda do Weibo ou do WeChat significa queda das fontes de informação do estado totalitário chinês sobre o povo que desejam manter sob domínio do cabresto. O que as pessoas pensam e desejam está relacionado ao quão satisfeitas ou insatisfeitas estão com o estado, sem mencionar a iniciativa do estado em as manter reguladas e niveladas das mais leais até às mais rebeldes, vide o exemplo do sistema de pontuação

O fator de controle social

No caso da Coréia do Norte a comparação não se sustenta pelo país possuir princípios isolacionistas tanto no sentido econômico quanto social. Não há integração relevante entre a estrutura social norte coreana com a estrutura social global na rede mundial de computadores. Há, excepcionalmente, certas integrações com a China, mas nada sequer perto da conectividade e integração permitida por estas três redes sociais às democracias livres.

Falar da Coréia do Norte é complicado, propositalmente poucas informações sobre o país são divulgadas para o exterior. Quanto menos integrações com o exterior existem, menor o interesse do exterior em investigar a realidade norte coreana. 

Ainda assim o interesse existe e algumas informações saem de lá. Uma pessoa não pode se expressar nem ao escolher qual será seu corte de cabelo. TV ou jornais impressos não apenas são poucos, mas todos repetitivamente divulgando apenas a narrativa que mantém a legitimidade do governo e da família Kim. Expressar opiniões dos “cidadãos”? Fora de cogitação. 

A manutenção do controle social e psicológico para estes dois países é tão importante para estes quanto a receita federal é para o Brasil ou os EUA. Aqui não importa o que pensemos desde que os impostos estejam pagos para manter o estado funcionando. Lá, para o estado funcionar, exige-se mais que apenas pagamentos monetários. Exige-se a submissão social e psicológica. A chance de queda do Weibo, WeChat e afins é tão grande quanto as da receita federal. 

O que a queda se parece

Já foi fazer uma compra em um mercado local e, ao pagar, descobriu que determinada operadora de cartão estava com queda de conexão e você precisou buscar outra opção de pagamento com o comerciante? Ou foi ao seu restaurante favorito e não pôde comer por causa de uma reforma na cozinha?

Imprevistos acontecem na iniciativa privada, é parte dos riscos da operação e do fato de não existirem garantias em lei – ou idealmente não deveriam existir garantias para empresas grandes demais para perder/falir – para resguardar contra estas possíveis falhas. 

For você uma pessoa que apenas usa estas redes para dividir sua rotina com amigos ou registrar momentos em um álbum virtual sua experiência estará profundamente ligada a plataforma e o quão sólida ela é para se manter aberta, funcional e protegendo o conteúdo postado por você. Se esta plataforma falhar e eventualmente for fechada você perderá um canal de expressão de suas ideias e momentos, algo resolvível com um backup dos dados construídos ali para em seguida migrar rumo a uma plataforma mais estável. 

Se seu negócio ou sua instituição depende destas plataformas a dependência delas pode ser fatal. Você apostaria todas as suas vendas de cartão em uma única bandeira? Venderia apenas um tipo de suco no seu restaurante?

O mesmo se aplica também para a criação de conteúdo virtual. O conteúdo publicado aqui poderia ser publicado em uma rede social como LinkedIn, mas seria como deixar todas as vendas da loja a mercê de uma única bandeira de cartão. A queda de uma rede significaria a queda de todas as vendas. 

Trazendo o exemplo concreto, imagine uma loja virtual existindo exclusivamente por Instagram e Whatsapp hoje. Horas sem qualquer maneira de contatar seus clientes e sem saber até quando duraria a falta de conexão. 

Algo que a queda ensina

O Facebook cresceu, não é mais apenas um “anuário virtual”, como costumava ser. Agora se trata do mais relevante conglomerado de mídias sociais do mundo, sempre em expansão e sempre tentando se manter atualizado com as novas tendências. A compra de novas marcas e atualizações para as funcionalidades da moda é uma tentativa disto, mas trás o risco evidenciado por hoje.

Os aplicativos “powered by Facebook” despencaram e ficaram de pé seus concorrentes, como o Twitter. A fatia de mercado ocupada pela empresa de Zuckerberg é merecida, o marketing e estratégias geram resultado de tal forma que o Whatsapp possui mais capilaridade do que concorrentes com funcionalidades técnicas superiores. Zuckerberg faz o que é correto para a empresa dele, algo que quase sempre não é o correto para a instituição dele. É correto para a sua instituição estar presente no aplicativo de mensagens mais popular do país, mas depender apenas deste e sem informar seu cliente da sua presença em outros aplicativos para casos como o de ontem não é nada correto. 

E agora?

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A maioria provavelmente não ficará incomodada com a queda de ontem por mais que alguns dias. Desta maioria não se deve esperar grandes mudanças na rotina de suas instituições. Para quem quer um meio de se preparar para a próxima instabilidade vinda da gigante das mídias sociais, ficam abaixo algumas sugestões de alternativas.

Telegram

Um favorito entre os desiludidos com o Whatsapp, especialmente por funcionalidades técnicas superiores ao concorrente mais popular. Mais limite de tamanho na transferência de arquivos, grupos com maior limite de participantes e até a possibilidade de uso de bots são vantagens do Telegram.

Signal

Ainda menos conhecido, mas com diferenciais que lhe dão uma identidade única. O Signal pode ser mais limitado em algumas funcionalidades diárias, mas entrega uma segurança maior em termos de criptografia. Ainda assim seu código é aberto então por mais que a informação seja secreta a forma como o segredo é guardado não é sigilosa.

Faça o correto pela sua instituição, diversifique e informe seus clientes, não deixe a si mesmo e a eles reféns.

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"O poeta é assim: tem, para a dor e o tédio,
Um refúgio tranquilo, um suave remédio.
És tu, casta poesia, ó terra pura e santa!
Quando a alma padece, a lira exorta e canta;
E a musa que, sorrindo, os seus bálsamos verte,
Cada lágrima nossa em pérola converte."

MACHADO DE ASSIS