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No Comunismo só se desperdiça recursos

“O capitalismo desperdiça recursos, desperdiça alimento, desperdiça moradia(…)”. Esta frase é comum de ser lida em diversas fontes. Jogue “capitalismo” e “recursos” no google – use aba anônima para não distorcer a busca com seu histórico de preferências – e verá os seguintes dois primeiros resultados. Uma reportagem sobre um congresso do MST e falas de como todas as misérias ambientais modernas são produto do capitalismo; e o portal Mundo Escola, do Uol, apontando o capitalismo como o motor da destruição dos valores humanos, degradação ambiental e exploração dos trabalhadores.

Porque no capitalismo não se desperdiça recursos

Críticos do liberalismo econômico vêm de todos os lados. Citando o filósofo conservador Roger Scruton, quando em seu livro relembrou a poluição de embalagens plásticas em sua terra natal como um problema do capitalismo. Quem teria interesse em garrafas plásticas e lixo em geral descartado e jogado na beira de vias públicas?

Hoje esta pergunta tem resposta óbvia, cooperativas de coleta de resíduos são comuns em diversas cidades. Estas empresas e cooperativas são renda para pessoas sem formação ou habilidades que lhe garantiriam empregos melhores. É pouco, mas o suficiente para uma pessoa honesta crescer e abrir as portas para uma ascensão social, um fenômeno raríssimo em eras pré-capitalistas.

Uma sociedade aberta a atividade empreendedora livre e responsabilizável – o que não acontece em sociedades com empresas “grandes demais para falir” – abre espaço para que até lixo seja um recurso econômico capaz de gerar renda para uma pessoa. A garantia deste uso “universal” de todo e qualquer recurso disponível na sociedade não é uma garantia baseada em nada além da psicologia humana. 

Ganância e criatividade como motor para impedir quem desperdiça recursos

Seres humanos são, em sua maioria, gananciosos e preocupados primeiramente com suas necessidades pessoais. Este fato se vê desde o catador de lixo até um milionário, mas o que mais há de comum entre os dois? A constante procura por encontrar valor onde outras pessoas veem nada ou menos que nada. 

Aumentar sua renda mensal, possuir maior conforto diário e ter mais do seu rendimento para seu uso são posturas possíveis de serem chamadas de “gananciosas” e são comuns para todo o ser humano. Tanto o catador de lixo quanto um milionário – especificamente um que chegou ao milhão com trabalho honesto ao invés de rentismo ou corporativismo – tentam ao máximo gerar valor a partir de coisas e ações ignoradas pela maioria. Uma pilha de lixo causa aversão à maioria, mas ali um catador de lixo encontra seu sustento e alguns a partir disto encontram a semente da qual futuramente nasceria uma empresa de sucesso. Um rancho de galinhas e porcos parece banal e mundano para a maioria, mas para outros é o suficiente para começar uma empresa bilionária que emprega mais de 9.000 pessoas.

Se você decidiu abrir o link acima deve ter notado ser um exemplo vindo da mesma China onde recentemente mais de uma dúzia de prédios foram demolidos após ficarem anos abandonados. Qual a diferença entre o rancho e estes prédios?

A realidade próxima a estourar na China

As taxas de crescimento da economia chinesa tem sido estranhamente altas por anos consecutivos. Durante os anos 2000 nunca esteve abaixo de 8% ao ano e de 2010 à 2019 nunca abaixo de 6%. O PIB global, por outro lado, de 2000 à 2010 nunca esteve acima de 4,5%.

A China possui alguns fatores orgânicos que permitem isto, como seu poderoso mercado consumidor, mas a chave para este crescimento enorme tem sido a presença do PCCh na direção da economia. Mesmo antes da crise de 2008 havia no mercado interno uma forte tendência para a construção civil e a fundação de diversas novas cidades com estrutura de grandes metrópoles. O resultado desta oferta de novas cidades sem a demanda de pessoas desejando morar nestes locais são 50 cidades fantasmas no país continental. A soma de área construída sem gente vivendo e trabalhando nestes locais é maior que alguns dos menores países do mundo. 

O chocante vídeo de mais de uma dúzia de prédios sendo demolidos ao mesmo tempo é resultado da falência da empresa responsável por estes. Esta falência ocorreu, de acordo com o analista político Dushyant Naagar, em 2013 e desde então nenhuma empresa teve interesse em assumir o investimento e finalizar os prédios. 

E por que qualquer empresa teria interesse em finalizar prédios que ninguém quer comprar? A demanda pelas metrópoles planejadas no interior da China é uma ordem do governo para impedir migrações internas com destino às áreas costeiras, é um cabo de guerra contra as demandas legítimas do mercado consumidor. 

Para que estas metrópoles planejadas chegassem sequer perto de ser um sucesso exigiria mais do que apenas ter quem queira comprar os apartamentos e casas. Muitas das propriedades nestas cidades fantasmas são compradas por pessoas que querem investir ou ter neste imóvel uma forma de preservar seu patrimônio, algo difícil de ser preservado se seu patrimônio estiver em uma moeda volátil, de valorização inconstante. Isto não basta para uma cidade, cidades também são serviços e serviços só podem existir se pessoas lá moram para prestar e contratar. 

O equivalente a 50 cidades fantasmas de recursos desperdiçados porque o mercado chinês está existindo para atender aos caprichos do PCCh e não os consumidores que supostamente deveriam viver nestas cidades.

O economista francês Fréderic Bastiat tem em seu histórico de contribuições a reflexão sobre “O que é visto e o que não é visto” quando se refere ao custo de oportunidade perdido ao fazer uma escolha. Vemos os mais de 60 milhões de apartamentos abandonados, mas não vemos outras oportunidades de emprego e renda que poderiam ser genuinamente criadas com aquele concreto, aquela terra e aquele tempo desperdiçado nestas cidades fantasmas.

Isto não é novidade, já ouviu falar do Mar de Aral?

Outra frase comum é que o capitalismo não se preocupa com o meio ambiente, mas sim o explora para lucros inconsequentes. A realidade é outra, empresas privadas possuem uma chance muito maior de arcarem com as consequências de seus erros do que governos, democráticos ou tirânicos. O exemplo do Mar de Aral é pouco conhecido, mas importante, veja abaixo o resumo da BBC:

O Mar de Aral foi destruído por ego dos soviéticos quando acharam que poderiam manipular a natureza sem ter quaisquer consequências. Rios foram desviados para irrigações mal planejadas com objetivos imediatistas. A fome assolava os países da União Soviética e eles não podiam esperar, o projeto de irrigação foi vendido como um milagre para acabar com a fome. 

O impacto ambiental e social para todo o ecossistema local sofreu uma destruição imensurável. Excesso de poder e consequências mínimas – ou nenhuma – para erros e tragédias são a receita mais certa para desastres e tirania. 

A China até deixa alguns setores operarem com princípios de empresas. O passado trágico com Mao Zedong culpando pardais pela baixa produção agrícola e declarando guerra contra o pássaro talvez tenha ensinado algo. Ainda assim hoje nenhum setor realmente pode prosperar com a era Xi mudando o curso da China do reformismo e abertura de décadas atrás para uma rota centralizadora, censora e tirânica.

Não existe economia livre sem governança justa e baseada em princípios, a realidade chinesa é uma governança baseada em ideologias ultrapassadas e justa apenas com os partidários e amigos destas ideologias.

O cenário do futuro breve é pessimista. A bolha imobiliária prestes a estourar não vai levar ao desperdício de mais recursos, estes já foram majoritariamente desperdiçados. Apesar do cenário desolador ainda podem haver esperanças.

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"O poeta é assim: tem, para a dor e o tédio,
Um refúgio tranquilo, um suave remédio.
És tu, casta poesia, ó terra pura e santa!
Quando a alma padece, a lira exorta e canta;
E a musa que, sorrindo, os seus bálsamos verte,
Cada lágrima nossa em pérola converte."

MACHADO DE ASSIS