Spalenza Pedroni

O conteúdo certo para você.

Contrate Já! Saiba Mais

PEC do calote ainda pode perder

A primeira votação da PEC 23 terminou com uma vitória muito apertada dos caloteiros. Este fato recente nos deixa algumas lições para a próxima batalha decisiva pela saúde fiscal não apenas do Brasil como nação, mas como destino de investimentos e geração de emprego e renda. 

O assunto é duplamente relevante para a reputação do país, tanto pelo respeito às decisões judiciais de onde vêm as dívidas quanto pelo equilíbrio fiscal necessário para manter a estabilidade do governo brasileiro. Mudar as regras para os precatórios em nome de financiar um programa assistencialista novo é quebrar uma reputação já manchada por outros fatores recentes. 

O que é e o que faz a PEC

A PEC 23 abre a possibilidade de um limite para os pagamentos obrigatórios que decisões judiciais impõem ao governo federal. Sempre que uma pessoa ou empresa processam o governo e ganham a causa sem qualquer possibilidade do governo recorrer essa dívida se transforma em precatórios. Todos os anos o governo federal tem pagamentos obrigatórios destes precatórios para honrar as dívidas destas decisões judiciais, estes pagamentos para serem feitos em 2022 somam R$ 89 bilhões de acordo com Guedes.

Caso a proposta seja aprovada, a expectativa é que crie uma folga de R$ 91,6 bilhões no orçamento de 2022. Destes R$ 91,6, R$44,6 bilhões são dos precatórios que poderão ser parcelados para anos futuros enquanto R$ 47 bilhões são da correção do teto de gastos que está incluída na mesma PEC.

pec-precatorisos-lira-ribeiro
Reprodução: Cristiano Mariz/VEJA

Voto de fora na aprovação da PEC

Sempre que um projeto importante está para ser votado os parlamentares visitam uns aos outros, conversando e fechando acordos, buscando apoio para a aprovações ou vetos. Isto é o comum e esperado de acontecer em qualquer câmara municipal, assembleia estadual ou o congresso nacional, mas o que Lira fez pela PEC 23 foi um pouco além.

Uma semana após retornar aos trabalhos presenciais no plenário da câmara a mesa diretora aprovou ato que permite o voto remoto para quem está em “Missão autorizada pela Câmara”. A medida faz sentido quando se pensa nos avanços tecnológicos que permitem o trabalho remoto, mas o único fator que fez essa decisão existir foi a vontade do presidente da câmara de aprovar o projeto, garantindo que seus aliados em viagem pudessem ajudar na aprovação. A medida provavelmente não aconteceria se os parlamentares em viagem oficial fossem contra a proposta, o que deixa clara a instabilidade da proposta e o pouco apoio que tem, dentro dos critérios de exigência para uma emenda à constituição.

Ainda serão necessárias três votações antes de Bolsonaro poder ter o prazer de aprovar sua pedalada fiscal em favor de seu “Auxílio Brasil”, o 2º turno na câmara e os dois turnos no senado. Esses serão momentos para explorar esta instabilidade e barrar a PEC.

O fator político

A urgência em adequar o orçamento e liberar margem para gastos não obrigatórios é o ano eleitoral de 2022, vital para a reeleição presidencial e dos mandatários que compõem o centrão. Com as diversas mudanças de regras eleitorais que começarão a se valer em 2022 duas coisas se fazem necessárias para garantir vitórias, estratégias de qualidade e recursos. Qualquer estratégia precisa ser baseada nas regras do jogo e quando as regras mudam o próprio conceito de estratégia de qualidade muda junto. O exemplo das municipais de 2020 e como muitas derrotas vieram mesmo para candidatos com recursos se explicou pela falta de preparo para lidar com os efeitos das novas regras eleitorais. 

Nas votações futuras que a PEC 23 precisa enfrentar ela encontrará resistências de grupos políticos que precisam enfraquecer o presidente Bolsonaro e reduzir o orçamento disponível para as negociações políticas com sua base no congresso e para seu “Auxílio Brasil”. Ciro Gomes já anunciou suspensão de sua pré-campanha à presidência para garantir votos no PDT contra a PEC.

Qualquer candidato de fora do eixo Bolso-Lulista precisa agir para impedir este provável segundo turno entre o atual e o ex-presidente, movimentações neste sentido devem surgir também do PSDB, Podemos, Cidadania e outros partidos com interesses presidenciais próprios. 

Esta tendência aponta para a provável derrota da PEC em votações futuras, mas não significa que Bolsonaro irá parar de tentar garantir. O presidente está motivado a usar a máquina para garantir sua reeleição e gastará o que for preciso, mesmo que no caminho destrua as finanças e a credibilidade do país.

Gostou do conteúdo? Leia mais das análises jornalísticas.

No Responses

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Categorias
"O poeta é assim: tem, para a dor e o tédio,
Um refúgio tranquilo, um suave remédio.
És tu, casta poesia, ó terra pura e santa!
Quando a alma padece, a lira exorta e canta;
E a musa que, sorrindo, os seus bálsamos verte,
Cada lágrima nossa em pérola converte."

MACHADO DE ASSIS