
Saia dos extremos, você é nada pra eles
China proíbe personagens homossexuais e nazistas em mídias audiovisuais, desde séries até filmes e jogos. Esta notícia recente é uma daquelas que vai encontrar adeptos e apoiadores nos dois extremos ideológicos. A homofobia não é uma falha de caráter exclusiva de um extremo político, esta notícia provavelmente alegrou homofóbicos reacionários também de extrema direita.
Comemorar ou debochar dessa decisão, como se tivesse algo a ver com visões individuais do que é correto como relações amorosas e construção familiar é cair na ilusão de que líderes ou organizações de qualquer lado dos extremos se importa com suas visões e seu caráter. Não se importam. Isto volta a teoria política da ferradura, os extremos da esquerda e da direita são mais próximos do que parece. Em anos recentes vimos condutas comuns entre a extrema esquerda petista e a extrema direita bolsonarista, um fenômeno também ocorrendo em outros cantos do mundo.
Por outro lado, a proibição de personagens Nazistas é mais sensível e merece ser avaliada com ainda mais cuidado já que a própria China sofreu com as ocupações e campos de concentração dos aliados dos Nazistas na segunda guerra mundial, o Império Japonês.
Falar do nazismo é necessário também pra aprender a o identificar disfarçado
O Nazismo é um dos mais podres capítulos da história humana, mas foi executado por seres humanos que, em algum nível, acreditavam estar fazendo o correto. Nosso dever hoje é conversar seriamente sobre o que houve e identificar as raízes de onde veio a tragédia. A barbárie não surgiu de um dia pro outro e nem de um ano para o outro, foram décadas de ideias totalitárias e extremas sendo normalizadas e banalizadas como o normal até chegar a Auschwitz.

Em 2015 saiu o filme alemão “Ele está de volta”, uma comédia contando o que aconteceria se Hitler tivesse sido transportado 70 anos no futuro e acordado na Alemanha atual. Além das piadas com a ignorância das pessoas lidando com o que acreditam ser apenas um imitador de Hitler o filme, mesmo sendo uma comédia, aborda bem os aspectos de como os extremos deturpam problemas reais e os usam como combustível para mais extremismos.
É uma obra completamente de ficção, apesar de retratar uma figura história poderosa, se trata de uma narrativa ficcional envolvendo um personagem nazista, algo que seria proibido se virar moda a ideia de proibir personagens nazistas, ou de qualquer ideologia ou culto extremista, é dar aos extremistas um ambiente de ignorância onde podem enganar e prosperar.
O efeito no debate de ideias
A falta de conversas sensatas sobre os períodos mais obscuros de nossa história, os rotulando superficialmente, é conveniente para quem age parecido. Soviéticos e Nazistas tinham campos de concentração, controle da mídias e expurgos internos de traidores da causa. Falar honestamente das características mais abrangentes do Nazi-Fascismo é uma boa forma de conscientizar contra seus irmãos canhotos de práticas similares, os Comunistas. E você, indivíduo que quer apenas viver sua vida em paz com seus princípios, família e causas, é apenas massa de manobra no meio destes conflitos.
Proibir o diálogo e a conversa, assim como a consequente produção de conteúdo audiovisual, sobre determinado tema é dar como única alternativa o conflito. Nas diferenças onde não existe diálogo vai existir conflito. Quando a alternativa democrática falhou em diversos países da Europa na primeira metade do século XX células fascistas surgiram, algumas delas combatiam Hitler e suas práticas tirânicas, mas já haviam perdido a luta real por abandonar a alternativa de democracia liberal e passarem a usar fascismo pra combater fascismo.
Fé, orientação sexual e gênero, os extremos não se importam
Em última análise qualquer ideologia extremista apela para alguma forma de coletivismo. Nacionalistas exaltam a superioridade de uma nação em detrimento a outra, o mesmo se aplica com racistas ou misóginos. Todas as suas características além daquela lhe conectando com o grupo são irrelevantes. Diversas justificativas serão dadas para apaziguar – enganar – as pessoas homossexuais proibidas de serem representadas por personagens chineses na ficção. Estas justificativas vão tentar divergir a atenção do que realmente importa: você não importa pra eles e de você querem apenas sua submissão.

Nem o Dalai Lama é exceção a esta regra. Individualmente o próprio ainda lembra de Mao Zedong com respeito, mas por trás do tratamento educado dado pelo ditador ao líder religioso nas ocasiões em que se encontraram estava o tirano disfarçando suas reais intenções absolutistas.
Desde então a perseguição do PCCh a cultura, fé e tradições sociais do povo tibetano tem sido constante e implacável. Eles nunca realmente se importaram com sua santidade o Dalai Lama ou com a fé Budista, um dos pilares da história e cultura chinesa desde a Dinastia Han. Isto não significa que não vão tentar disfarçar suas intenções facínoras com justificativas bonitas como “levar crescimento econômico ao povo tibetano”, estão apenas colocando o povo tibetano em uma gaiola dourada, reféns da tirania de um governo tirânico e extremista.
Dialogue com quem pensa diferente, não trate discordância como um inimigo a ser combatido, isto fabrica reais inimigos.
Gostou do conteúdo? Leia mais das colunas jornalísticas de opinião.
Deixe um comentário Cancelar resposta
Categorias
"O poeta é assim: tem, para a dor e o tédio, Um refúgio tranquilo, um suave remédio. És tu, casta poesia, ó terra pura e santa! Quando a alma padece, a lira exorta e canta; E a musa que, sorrindo, os seus bálsamos verte, Cada lágrima nossa em pérola converte." MACHADO DE ASSIS
No Responses